quarta-feira, 26 de abril de 2017

Quem Me Leva Os Meus Fantasmas
Maria Bethânia
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Aquele era o tempo
Em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes as palavras voavam
E eu via que o céu me nascia dos dedos
E a ursa maior eram ferros acesos
Marinheiros perdidos em portos distantes
Em bares escondidos
Em sonhos gigantes
E a cidade vazia
Da cor do asfalto
E alguém me pedia que cantasse mais alto

Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e´ a estrada

Aquele era o tempo
Em que as sombras se abriam
Em que homens negavam
O que outros erguiam
E eu bebia da vida em goles pequenos
Tropeçava no riso, abraçava venenos
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala
Nem a falha no muro
E alguém me gritava
Com voz de profeta
Que o caminho se faz
Entre o alvo e a seta

Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e a estrada

De que serve ter o mapa
Se o fim está traçado
De que serve a terra à vista
Se o barco está parado
De que serve ter a chave
Se a porta está aberta
De que servem as palavras
Se a casa está deserta?

Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e a estrada
Não mexe comigo, que eu não ando só.
 
Eu não ando só. 
 
Não mexe, não.
 
Eu tenho zumbi dos palmares, tenho besouro (lenda da capoeira), o chefe dos tupis.
 
sou tupinambá.
 
tenho os erês, caboclo-boiadeiro, mãos-de-cura, morubixabas, cocares, arco-íris, zarabatanas, curare, flechas & altares.
 
tenho a velocidade da luz, o escuro da mata escura, o breu, o silêncio, a espera.
 
(o tempo sempre a meu favor.)
 
todos os pajés em minha companhia.
 
o menino deus brinca & dorme nos meus sonhos, o poeta (português) me contou.
 
não misturo. não me dobro.
 
rainha do mar anda de mãos dadas comigo. me ensina o baile das ondas & canta canta canta para mim.
 
é do ouro de oxum que é feita a armadura que guarda o meu corpo, garante meu sangue, minha garganta. o veneno do mal não acha passagem.
 
me sumo no vento. cavalgo no raio de iansã. giro o mundo. viro, reviro. vôo entre as estrelas.
 
vou além. me recolho no esplendor das nebulosas, descanso nos vales, montanhas, durmo na forja de ogum guerreiro.
 
rezo com as três marias no céu.
 
mergulho no calor da lava dos vulcões: corpo vivo de xangô.
 
não ando no breu nem ando na treva.
 
medo não me alcança.
 
no deserto (sozinho, apenas comigo mesmo) me acho.
 
faço cobra morder o rabo. faço escorpião virar pirilampo. 
 
fulminar aquele que é injusto, aquele que maltrata, aquele que transforma a vida nas mazelas a que assistimos no dia-a-dia: 
 
tu, pessoa nefasta! 
 
(eu não provo do seu fel, eu não piso o seu chão, e para onde você for, pessoa nefasta, não leva meu nome, não.)
 
onde vai, “valente”?…
 
você, pessoa nefasta, secou. seus olhos insones secaram. seus olhos não vêem brotar a relva que cresce livre & verde, longe da sua cegueira. seus ouvidos se fecharam a qualquer som. o próprio umbigo é a única coisa que interessa. 
 
tu, pessoa nefasta, estás tão mirrada, que nem o diabo te ambiciona: não tens alma. tu, pessoa nefasta, pessoa que corrompe a vida, pessoa que coloca na boca dos seus semelhantes o gosto de terra & sangue, és o oco do oco do oco do “sem fim” do mundo. um nada.
 
(o que é teu, pessoa nefasta, já está guardado. não sou eu quem vou te dar. é a vida & sua reviravolta ante tantos maus tratos propagados por ti. trata-se da lei da ação & re-ação.)
 
eu posso engolir você, pessoa nefasta, só para cuspir depois.
 
minha fome é matéria que você não alcança: desde o leite do peito de minha mãe, mulher sempre linda & benvinda, até o sem fim dos versos versos versos que brotam no poeta, versos versos versos que brotam em toda poesia.
 
se choro, e quando choro & minha lágrima cai, é para regar o capim que alimenta a vida. chorando, eu refaço as nascentes que você, pessoa nefasta, secou.
 
se desejo, o meu desejo faz subir marés de sal & sortilégio.
 
vivo de cara para o vento. na chuva. e quero me molhar.
 
sou como a haste fina: qualquer brisa verga, mas nenhuma espada corta.
 
não mexe comigo.
 
não mexe comigo, que eu não ando só.
 
eu não ando só. 
 
não mexe, não.
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quarta-feira, 19 de abril de 2017

Não participo das confusões alheias, sou filtro não esponja.

(Elisabete Coelho)

 

terça-feira, 18 de abril de 2017

O interior das famílias é muitas vezes perturbado por desconfianças, ciúmes e antipatias, e enganam-nos as aparências de satisfação, calma e cordialidade, fazendo-nos supor uma paz que não existe; poucas há que ganham em ser aprofundadas.


Jean de la Bruyere
Espero que você faça o melhor. E eu espero que você veja coisas que assustem você. Eu espero que você sinta coisas que você nunca sentiu antes. Eu espero que você encontre pessoas com um ponto de vista diferente do seu. Eu espero que você viva uma vida que você se orgulhe.
E se você achar que você não é feliz, eu espero que você tenha a força para recomeçar.

(Benjamin Button)
O Curioso Caso de Benjamin Button 

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Ouvir verdadeiramente alguém resulta numa outra satisfação especial. É como ouvir a música das estrelas, pois por trás da mensagem imediata de uma pessoa, qualquer que seja essa mensagem, há o universal.

Carl Rogers
Na verdade não é de forma nenhuma possível dar sentido, e menos ainda pode o terapeuta dar um sentido à vida do paciente ou entregar ao paciente esse sentido. Pelo contrário, o sentido precisa ser encontrado, e ele só pode ser encontrado pela própria pessoa.

Viktor Frankl

Cada um de nós tem uma natureza interna essencial, biologicamente alicerçada, a qual é, em cerca medida, ’’natural”, intrínseca, dada e, num certo sentido limitado, invariável ou pela menos, invariante.

Abraham Maslow

sábado, 8 de abril de 2017

O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela.
Fernando Pessoa